Introdução
A dupla-excepcionalidade pode ser definida como a coexistência de altas habilidades ou superdotação (AH/SD) com condições tradicionalmente vistas como incompatíveis, como a Síndrome de Asperger (SA) – parte do Transtorno do Espectro Autista (TEA) –, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtornos de Aprendizagem (TA). Este artigo aborda essas interseções, explorando características únicas, desafios diagnósticos e estratégias de intervenção eficazes.
Definição e Contexto
A “dupla-excepcionalidade” descreve indivíduos com habilidades extraordinárias em uma ou mais áreas, coexistindo com desafios como dificuldades emocionais, sociais ou educacionais. Frequentemente subdiagnosticada, essa condição requer um olhar multidisciplinar para identificar as sobreposições entre talentos e limitações..
Aspectos Cognitivos e Diagnósticos
O diagnóstico de dupla-excepcionalidade é complexo, exigindo uma abordagem que vá além de métodos tradicionais. Estudos destacam a importância de ferramentas integradas, como testes psicométricos e avaliações de criatividade, para identificar tanto talentos quanto dificuldades. Além disso, a análise do histórico comportamental e observações clínicas desempenham um papel crucial.
Síndrome de Asperger e Altas Habilidades
Indivíduos com SA/AH/SD exibem características únicas, incluindo:
- Memória avançada e raciocínio lógico acima da média.
- Interesses restritos e focados.
- Dificuldades em interpretar abstrações e mudanças de rotina.
- Criatividade e originalidade, frequentemente ausentes na SA pura.
Enquanto ambas as condições compartilham linguagem formal e precocidade cognitiva, a criatividade é um diferencial significativo em casos de AH/SD. Estudos sugerem que o comportamento social comprometido é mais prevalente na SA pura, enquanto a dupla-excepcionalidade apresenta mais equilíbrio.
TDAH e Altas Habilidades
Crianças com TDAH/AH/SD enfrentam desafios únicos, como:
- Altos níveis de curiosidade e pensamento divergente.
- Impulsividade mais pronunciada em contextos de baixa estimulação.
- Dificuldades em ambientes escolares que não oferecem estímulo adequado.
Embora compartilhem comportamentos semelhantes, como agitação e impulsividade, as diferenças residem na motivação: indivíduos com AH/SD demonstram esses comportamentos em situações desmotivadoras, enquanto no TDAH eles são mais generalizados.
“As crianças com dupla-excepcionalidade podem ter um desempenho criativo e intelectual único, muitas vezes mascarado por seus desafios.” — Foley-Nicpon et al. (2013)
Transtornos de Aprendizagem e Altas Habilidades
Os TA, como dislexia e discalculia, são menos frequentemente associados à AH/SD, mas apresentam:
- Alta criatividade em resolução de problemas.
- Facilidade em atividades que demandam pensamento visual e abstrato.
- Dificuldades específicas em leitura, escrita ou matemática.
O diagnóstico tardio é comum, impactando negativamente o desenvolvimento emocional e social. A identificação precoce, que considere tanto talentos quanto dificuldades, é essencial para intervenções eficazes.
Intervenções e Estratégias
Identificação Apropriada
Kalbfleisch & Iguchi (2008) destacam que o diagnóstico exige integração de ferramentas psicométricas, observações comportamentais e entrevistas com pais e professores. Estratégias eficazes incluem a análise de criatividade e a compreensão do histórico comportamental.
Programas Educacionais
Programas de enriquecimento curricular e aceleração são eficazes para equilibrar talentos e desafios. Abordagens personalizadas são essenciais para maximizar o potencial em casos de SA/AH/SD, TDAH/AH/SD e TA/AH/SD.
Conclusão
A dupla-excepcionalidade representa um desafio significativo para práticas diagnósticas e interventivas. Reconhecer a coexistência de talentos e dificuldades é essencial para promover o desenvolvimento pleno e a qualidade de vida desses indivíduos. Estratégias que integram suporte emocional e acadêmico são fundamentais para alcançar esses objetivos.
Referências
- Alves, R. J. R., & Nakano, T. C. (2015). A dupla-excepcionalidade: Relações entre Altas Habilidades/Superdotação com a Síndrome de Asperger, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e Transtornos de Aprendizagem. Revista Psicopedagogia, 32(99), 346–360.
- Pfeiffer, S. (2013). Serving the gifted: Evidence-based clinical and psychoeducational practice. Routledge.
- Neihart, M. (2008). “Identifying and providing services to twice-exceptional children.” In: Handbook of Giftedness in Children.
- Kalbfleisch, M. L., & Iguchi, C. M. (2008). “Twice-exceptional learners.” In: Plucker, J., & Callahan, C. M. Critical issues and practices in gifted education.